Rio - Júlia chegou ansiosa ao meu consultório. “A minha relação com Fábio é ótima. Ele é um grande companheiro, uma pessoa bastante confiável. Nesses três anos de namoro sempre nos divertimos muito. Temos vários amigos e viajamos com frequência. Gostaria de casar e ter filhos com ele. Mas acho que não vai dar. Tem uma coisa que para mim é super importante e com ele não é legal: o sexo. Tento não pensar nisso, mas não dá mais para negar. Fábio não sabe fazer sexo! Ele não percebe a importância das preliminares, é tudo muito rápido, sempre igual. Acho até que ele não gosta tanto de sexo. Eu o amo, mas tenho que passar o resto da minha vida frustrada? Já tive outros namorados antes. Com ele tenho a melhor relação amorosa da minha vida e a pior relação sexual! Não sei o que fazer.” 

Quando se pergunta se algumas pessoas fazem sexo melhor do que outras, muita gente responde que não. Afirmam que uma boa relação sexual depende exclusivamente do amor entre os parceiros. Como isso não é verdade, imagino ser mais uma tentativa conservadora de negar que sexo e amor são coisas totalmente distintas. 
Por mais que duas pessoas se amem, a relação sexual pode ser de baixa qualidade, com pouco prazer e nenhuma emoção. O sexo é o que temos de biológico mais ligado ao emocional, e muitos fatores influem no desempenho.

É grande a quantidade de homens que vão para o ato sexual ansiosos em cumprir uma missão: provar que são machos. A preocupação em não perder a ereção é tanta que fazem um sexo apressado, com o único objetivo de ejacular, e pronto. A mulher, com toda a educação repressora que teve, ainda se sente inibida em sugerir a forma que lhe dá mais prazer. Acaba se adaptando ao estilo imposto pelo homem, principalmente por temer desagradá-lo. Fazer sexo mal é isso: não se entregar às sensações e fazer tudo sempre igual, sem levar em conta o momento, a pessoa com quem se está e o que se sente.

As pessoas que gostam de verdade de sexo e o sabem fazer bem não têm preconceito nem vergonha, consideram o sexo natural, fazendo parte da vida. A busca do prazer é livre e não está condicionada a qualquer tipo de afirmação pessoal. 

Então, o sexo é desfrutado desde o primeiro contato, e se cria o tempo todo junto com o parceiro, até muito depois do orgasmo. O único objetivo é a descoberta de si e do outro, numa troca contínua de sensações, em que cada movimento é acompanhado de nova emoção. Sendo assim, o sexo deixa de ser a busca de um prazer individual para se tornar um poderoso meio de transformar as pessoas.
Regina Navarro Lins* é psicanalista e escritora, autora do livro 
A Cama na Varanda (Best Seller) entre outros. E-mail: rlnl@uol.com.br